Elas são gigantes dos oceanos, majestosas, imponentes, encantadoras, uma das espécies mais conhecidas e queridas desse habitat. As baleias-jubartes chamam atenção pela beleza, tamanho, pelos cantos e pelo grande salto com o corpo quase completamente fora da água. Um verdadeiro espetáculo da natureza! Não é à toa que muita gente quer ver esses animais de perto. Neste vídeo do canal do Projeto Baleia Jubarte no Youtube, podemos admirar essas espécies:
“A baleia-jubarte é considerada a mais acrobata entre as grandes baleias, seus saltos são motivos de alegria de turistas. As baleias podem saltar por diversos motivos: um macho adulto pode saltar e fazer batidas de caudal, dar cabeçadas ou batidas de nadadeiras peitorais demonstração de força para atrair atenção de uma fêmea. Um filhote pode saltar como exercício ou apenas diversão. Algumas baleias podem saltar para remover parasitas de seu corpo”, explica o biólogo e professor da Ufal, na unidade de Penedo, Cláudio Sampaio.
Outra característica marcante das baleias-jubarte é o canto dos machos. Neste vídeo, também disponível no canal do Projeto Baleia Jubarte, é possível ouvir os sons emitidos por essas espécies:
“As baleias-jubarte, além de grandes acrobatas, devido aos saltos e batidas de nadadeiras, são também conhecidas por serem excelentes cantoras! Apenas a baleia macho possui a capacidade de cantar. Esse canto serve para atrair fêmeas para acasalar e, possivelmente, indicar a outros machos a sua presença, para que fiquem longe. Curiosamente, as baleias-jubarte possuem cantos que indicam suas áreas de alimentação, pois em cada região tem um canto próprio, com características bem marcantes, algo semelhante a um sotaque. Então, baleias que vivem em áreas distintas acabam tendo canções tão diferentes que os pesquisadores conseguem diferenciar e até indicar em que áreas elas vivem”, revela o biólogo e professor da Ufal, Cláudio Sampaio.
Características físicas
Atingindo até 16 metros de comprimento e podendo pesar cerca de 40 toneladas, as baleias-jubartes, são identificadas por sua coloração negra no corpo, pelas nadadeiras dorsal e peitoral – que são brancas e podem ter até 1/3 do tamanho do animal, além da cauda preta e branca.
Exímias mergulhadoras, estima-se que as jubartes possam permanecer até cerca de 30 minutos submersas e alcançar mais de 600 metros de profundidade em seus mergulhos, mas, geralmente, aqui no Brasil, são vistas fazendo intervalos respiratórios mais curtos e mergulhos rasos. O borrifo desses animais também desperta curiosidade. O borrifo é a respiração das baleias e pode chegar até 3 metros de altura.
Origem do nome
As baleias-jubarte integram o grupo dos misticetos ou “baleias de barbatana”, são animais que, em vez de dentes, possuem, em ambos os lados da boca, uma cortina de cerdas filtradoras – as “barbatanas”, muito semelhantes à escovas. Isso permite que a espécie se alimente de pequenos organismos.
O nome científico dessas espécies é Megaptera Novaeangliae. Em grego, Megaptera significa grandes asas, em referência às enormes nadadeiras peitorais, e Novaeangliae, cuja tradução é Nova Inglaterra, remetendo à região dos Estados Unidos, onde a espécie foi identificada pela ciência pela primeira vez. Portanto, Megaptera Novaeangliae nada mais é do que “grandes asas da Nova Inglaterra”.
Jornada pela vida
Assim como outras espécies marinhas, as baleias-jubartes enfrentam uma longa jornada pelas águas em nome da vida. Elas vivem há milhares de quilômetros de distância da costa brasileira e, entre os meses de julho e outubro, período de reprodução, surgem no nosso litoral, do Rio Grande do Norte a São Paulo, que se tornou um grande berço de baleias. São animais extremamente migratórios.
“As baleias-jubarte que frequentam o litoral alagoano migram da região subantártica, suas áreas de alimentação. Lá, as baleias comem krill, um pequeno camarão, engordando e criando uma grossa camada de gordura. A distância aproximada entre o litoral alagoano e essas áreas de alimentação é de 4.500 km, sendo necessário cerca de 2 meses para realizarem essa viagem. Elas migram para as águas quentes e rasas, livres de grandes predadores, para reproduzir. Aqui, acasalam, parem e amamentam seus filhotes até eles estarem fortes e capazes de realizarem a viagem de retorno às áreas de alimentação”, revela o biólgo e professor da Ufal, Cláudio Sampaio.
A baleia-jubarte fêmea dá à luz um filhote após 11 meses de gestação. Ele nasce com aproximadamente quatro metros de comprimento, pesa cerca de uma tonelada e ingere até 100 litros de leite por dia. O desmame ocorre entre seis e dez meses de vida. Com um ano, se torna independente e se separa da mãe.
Ainda segundo o professor, as baleias-jubarte podem ser encontradas em todo o litoral alagoano. Geralmente, os pescadores são os primeiros a ver esses animais, que desbravam o oceano em pequenos grupos, formados por duas ou três baleias. No Pontal do Peba e em Maceió, em águas mais afastadas, não são raros os encontros com as baleias, como informa Cláudio Sampaio.
No último censo aéreo feito pelo Projeto Baleia Jubarte, em 2022, foi registrado um recorde na quantidade de baleias no Brasil com a presença de 25 mil animais. É o maior número desde que o levantamento começou a ser feito, há 21 anos. O Banco de Abrolhos, na Bahia, é considerado o local com maior concentração dessas espécies no país.
A orientação para quem vir um animal como esse é manter uma distância segura, de pelo menos 100 metros, com o motor da embarcação engrenado, não perseguir ou mergulhar com as baleias e fotografar para que os pesquisadores possam complementar seus estudos sobre essas espécies.
“Se possível, faça fotos (especialmente da nadadeira caudal, pois através do formato e colorido é possível identificar o indivíduo, funcionando como um tipo de “impressão digital), curta esse momento mágico da natureza e depois envie as fotos e informações para a UFAL, Instituto Biota ou Instituto Baleia Jubarte. Assim, você contribuirá para a conservação das baleias em Alagoas. Solicitamos que fotos, vídeos e informações de animais marinhos, como baleias, golfinhos, peixes e aves sejam encaminhados para o Instagram @lic.ufal.penedo. Lá, você também pode encaminhar perguntas e retirar dúvidas”, acrescenta o biólogo e professor da Ufal, Cláudio Sampaio.
Importância dessas espécies
As baleias-jubarte são importantes para não só para o meio ambiente, como também para a economia brasileira, gerando emprego e renda no setor do turismo náutico, na temporada de reprodução. O Instituto Baleia Jubarte atua fomentando e capacitando agências de turismo para agregar valor às baleias.
“As baleias-jubartes são valiosas para o combate às mudanças climáticas globais, armazenando carbono por dezenas de anos e transferindo essa energia, em forma de carne, gordura e ossos, para as águas profundas do oceano. Há uma estimativa de que cada baleia possa sequestrar 33 toneladas de CO2, gerando um impacto positivo no planeta. As baleias ajudam, também, na produtividade pesqueira, pois quando defecam liberam nutrientes em águas tropicais, aumentando o fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar do oceano, ou quando morrem, disponibilizando muita carne e gordura para centenas de espécies”, informa o biólogo e professor, Cláudio Sampaio.
O professor também destaca a importância econômica dessas espécies para o Brasil.
“Recentemente, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que cada baleia gere US$ 2 milhões em serviços ecossistêmicos no planeta. O turismo de observação de baleias vem crescendo no mundo inteiro, sendo realizado em mais de 100 países e gerando uma receita anual de quase 2,5 bilhões de dólares”, destaca o biólogo e professor da Ufal, Cláudio Sampaio.
Situação dessas espécies
Apesar de toda essa importância, as baleias-jubartes enfrentam muitos inimigos, tanto que chegaram a entrar na lista de espécies ameaçadas de extinção. Entre os principais perigos, estão emalhes em redes de pesca, batidas em embarcações, mudanças climáticas e a poluição.
Outro grande problema, a caça, foi resolvido graças aos trabalhos em defesa da conservação desses animais, que gerou impacto na legislação brasileira. As baleias-jubarte, como a maioria das grandes baleias, quase foram extintas pela caça indiscriminada durante séculos e que foi intensificada no século XIX com tecnologias modernas, como o navio a vapor e o canhão-arpão. Estima-se que mais de 300 mil jubartes tenham sido mortas por essa prática predatória, até sua proibição pela Comissão Internacional da Baleia, em 1965. Atualmente, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) considera o status de conservação da baleia-jubarte como pouco preocupante.
Desde 1988, o Projeto Baleia Jubarte trabalha pela proteção dessas espécies, monitorando a população sobrevivente e atuando junto às autoridades públicas para a implantação de normas e políticas de conservação. Graças a esses esforços, essas baleias saíram da lista oficial de espécies ameaçadas de extinção em 2014 e seguem rumo à recuperação de sua população.
“No Brasil, as jubartes foram caçadas desde 1602, primeiro na região do Recôncavo baiano com a chegada dos baleeiros bascos, e, depois pelas estações costeiras de caça à baleia, chamadas Armações, que se estabeleceram entre a Bahia e Santa Catarina e mataram jubartes sistematicamente pelo menos entre a Bahia e o litoral de São Paulo. Na primeira metade do século XX, baleeiros noruegueses e japoneses trouxeram navios para matar as baleias que restavam em águas brasileiras. Um massacre que só terminou de vez em 1985, quando o então Presidente José Sarney suspendeu a caça de baleias no país. Em 1987, a aprovação pelo Congresso da Lei Federal 7.643, que proíbe a captura e o molestamento intencional de toda espécie de cetáceo em águas jurisdicionais brasileiras, coroou quase duas décadas de campanhas contra a matança por ativistas brasileiros e inaugurou uma nova política de Estado do Brasil a favor da conservação e do uso exclusivamente não-letal desses animais, através da pesquisa cientifica e do Ecoturismo”, relata o Projeto Baleia-Jubarte, em seu site.
A Ufal também atua na conservação desses animais
“A Universidade Federal de Alagoas, através dos cursos de Engenharia de Pesca e Biologia da Unidade Penedo, articula ações com o Projeto Baleia Jubarte, do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), para o monitoramento embarcado (ciência cidadã) e atividades de educação ambiental, além de destacar a importância econômica do desenvolvimento do turismo de observação de baleias, muito comum em outros estados brasileiros, mas ainda pouco conhecido em Alagoas”, conta o biólogo e professor da Ufal, Cláudio Sampaio.
A emoção de ver as baleias-jubarte de perto
“Já participei de algumas expedições cientificas para monitorar baleias no litoral brasileiro e, a cada encontro, a emoção é ainda maior! Quando observamos uma baleia saltando no oceano, é algo mágico, que rapidamente conecta nossos sentidos à natureza. Voltamos a perceber o vento, o cheiro, o som, o gosto da natureza de maneira diferente, parece que com nosso dia a dia nas grandes cidades, com suas tensões, do trânsito, do trabalho, perdemos a capacidade de conectar a natureza em nossa volta… então, quando observamos uma baleia, é como um sinal da natureza dizendo algo como “estou aqui”! Acredito que seja esse um dos motivos do turismo de observação de baleias ser um sucesso em todo o mundo!”, conclui o biólogo e professor da da Ufal, Cláudio Sampaio.
Projetos de conservação para conhecer no Brasil
Imagens: ¹ Cláudio Sampaio, ² Christopher Nascimento.