Para promover o acesso aos seus acervos e aos bens culturais de Alagoas, o Arquivo Público do Estado de Alagoas (APA) abre seu espaço para realização de exposições, oficinas e projetos de educação patrimonial e estímulo à pesquisa.
Como parte dessas atividades, foi aberta, na manhã de sexta-feira (20), a Exposição Mergulho no Seco, composta por 16 trabalhos da artista plástica Vanessa Acioly, produzidos com elementos naturais como o barro, o alumínio, madeira e a palha, além de instalações com urupemas (peneiras de palhas).
A abertura da exposição faz parte também da programação da Semana Primavera dos Museus, que acontece nacionalmente e ficará aberta à visitação pública até o dia 12 de novembro, das 8h às 17h. Em seus trabalhos, Vanessa explora cores, texturas e forma em sua prática artística, produzindo trabalhos que remetem ao Alagoas Feita à Mão, a exemplo de bordados, pinturas e esculturas.
A diretora do Arquivo Público de Alagoas, Wilma Nóbrega, lembrou que o Arquivo Público, além de resguardar e preservar a memória arquivística do Estado desde o início do século XVII, tem também a proposta de expandir, de abrir o seu espaço para que a sociedade conheça a arte do alagoano.
“Além dos projetos de educação patrimonial que são realizados, a gente destina o espaço para exposições como da Vanessa (Acioly), que está acontecendo no momento, que é um ganho para o Arquivo Público, pois é um espaço de memória e a exposição da Vanessa retrata justamente a memória através da natureza”, pontua Wilma.
Para Vanessa, sua exposição no espaço do Arquivo Público Novos se identifica muito com a proposta do seu trabalho.
“Eu acredito que essa tinta da terra é tinta de memória. Eu falo muito isso que é uma tinta de memória porque o barro cria essas pigmentações através das coisas que morreram e nasceram ali: restos de animais, restos de plantas. Então, essa memória da nossa terra e ter calhado isso aqui num lugar de memória, achei que foi assim uma combinação perfeita e eu estou muito feliz de estar aqui fazendo a minha primeira exposição institucional. Eu já fiz um individual aqui em Maceió, mas não foi institucional. E ainda mais feliz por ser no bairro histórico de Jaraguá”, completou Vanessa Acioly.
Imersão à sensibilidade
A exposição Mergulho no Seco é, segundo Vanessa Acioly, uma imersão à sensibilidade do caráter manual da criação por meio do elemento terra como componente principal. Mestre em Pintura pela Universidade de Belas Artes do Porto (Portugal), sua pesquisa mergulha, como diz o título da exposição, em pigmentos naturais.
“Eu pesquiso o barro, as terras e as areias, principalmente no Nordeste. Essa pesquisa começou em Portugal, com as terras da região do Porto, principalmente do Rio Douro. Fazendo o mestrado em Portugal, entendi que, apesar dessa imagética toda do Nordeste, das falésias, das cores da terra, eu nunca tinha pintado com terra. Sempre fui em busca mais da pintura clássica, do óleo e da tinta acrílica. convencional e industrial. E lá, em busca de, na verdade, textura para minhas pinturas, fui entendendo que as tonalidades de terra existiam e elas poderiam trazer pigmentação com muitas cores. Todas as peças da exposição são feitas de terra. Têm algumas pinturas que são as iniciais, que foram as primeiras experimentadas lá no Porto. Elas têm mistura, têm óleo, têm terra e têm aquarela também, mas as outras todas são todas feitas com minérios naturais e terra”, diz Vanessa.
Natural de Maceió, a artista morou durante a infância e parte da adolescência em Penedo, onde teve contato com as ribeirinhas que produziam peças de barro, muitas originárias de povos quilombolas.
“Nasci em Maceió, mas me criei no interior, na cidade de Penedo. Essa coisa de morar perto do rio, porque eu cresci em Penedo, mas morei um tempo em Piranhas. Então, tenho uma conexão muito grande com o interior”, destaca.
Por meio da captura da forma e do espírito a partir da pintura, a artista Vanessa Acioly ativa pigmentos naturais advindos das rochas e do solo, onde experimenta a matéria natural por meio de gestos manuais e a partir da inteligência visual do material orgânico terra em seus elementos constitutivos.
“Mergulho no seco é um banho enxuto de matérias e substâncias vivas contidas na terra, como a produção da tinta, a pesquisa sobre o barro, minérios, e a vastidão das cores enquanto elementos naturais, somados ao raciocínio com as mãos como estado de atenção plena, considerando o saber ancestral como força guardiã subterrânea de sabedoria inextinguível”, define Vanessa.
Em sua produção, a artista utiliza uma policromia de terras colhidas em imersões cambiantes, em gestos repetitivos e meditativos de ancestralidade. Seus trabalhos carregam a memória da terra de maneira intrínseca sob gestos reincidentes, dispostos sobre a excentricidade e a crueza dos suportes, bem como vivências aprendidas nas comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e nas cooperativas de artesanatos as quais a artista frequenta.
Vanessa Acioly já esteve presente a diversas exposições coletivas e projetos especiais, a exemplo do Salão Nacional de Arte Contemporânea de Alagoas (2023); Dentro de Portas, no Museu da FBAUP, em Porto, Portugal (2022); Mar Aberto, Maceió (2021), entre tantas outras. Bacharel em Design de Interiores, pela Unidade Integrada Tiradentes (UNIT) e pelo Direito pelo Cesmac e tem mestrado em Pintura, na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (Portugal).