Uma dama do teatro alagoano, grande artista e ser humano, capaz de sonhar e realizar com brilho nos olhos, força, presença, bravura e ternura. Assim é Ivana Iza, artista alagoana, com uma bela e longa trajetória. Formada em Filosofia pela Ufal, é multifacetada, atua como atriz, diretora, dramaturga, documentarista e produtora de teatro e cinema. Ao longo de três décadas, consagrou sua carreira e cativou o público ao dar vida a personagens em espetáculos teatrais, como Dois Perdidos numa Noite Suja, Fulaninha e Dona Coisa, A Farinhada, Uma canção de Guerreiro no Chumbrego da Orgia, Baldroca, Versos de um Lambe Sola, além de Devassas e AVelha – grandes sucessos do teatro alagoano. No cinema, esteve no elenco de Deus é Brasileiro, do alagoano Cacá Diegues, O que Lembro Tenho e Serial Kelly. Por seu brilhante trabalho, recebeu diversos prêmios nacionais, estaduais e municipais.
Com seu perfil realizador e espírito empreendedor, agora, ela marca mais um lindo ato ao abrir o Theatro Homerinho, no Jaraguá, bairro histórico de Maceió. Isso mesmo, a nossa capital passa a ter mais um importante palco para as artes de Alagoas. Foram seis anos de muito trabalho até a realização do sonho de Ivana Iza e o grande dia está chegando. A estreia acontece neste sábado (01/02/2025), a partir das 17h, na praça Dois Leões, no Jaraguá, de onde sairá um cortejo até a porta do Homerinho, ponto alto da celebração, com diversos artistas alagoanos brindando a chegada da nova casa.
Evoé, Theatro Homerinho! Evoé, Ivana Iza, Homero Cavalcante e toda a classe artística! Vida longa, feliz e repleta de realizações ao mais novo templo das artes de Alagoas. Ao público, é apreciar, presenciar, prestigiar. Como nos convida Ivana Iza nesse bate papo no Blog Ping-Pong, contando também sobre o caminho percorrido até o abrir das portas e cortinas do Theatro Homerinho. Boa leitura!
Quando você começou a sonhar em abrir um teatro?
Eu comecei a sonhar com teatro muito cedo, eu acho que eu tinha uns 19, 20 anos, estimulada pela mulher que me levou ao teatro, que insistiu que eu seria atriz, a dona Maria Leoni, que infelizmente não está aqui mais entre nós, mas ainda vive muito dentro de mim e ela me dizia que eu seria capaz de realizar coisas muito impressionantes. Eu achava aquilo tão absurdo, mas ela acreditava tanto em mim, que hoje eu sei que de alguma forma ela via isso, sabe? Era uma mulher muito espiritualizada. Mulher por quem eu tenho muito amor e admiração. Muito do que eu aprendi na condução da minha vida, na minha postura como atriz, partiu dela. Então, eu sonhei lá, ainda uma adolescente, entrando na idade adulta.
E como veio a ideia do Homerinho, tanto o nome/homenagem, quanto ao formato/proposta da casa?
A ideia do Homerinho veio quando eu conheci o Homero, quando eu entrei para o curso de Formação do Ator, que hoje é a Escola Técnica de Artes, a ETA. O Homero era professor. Na ocasião, eu era aluna e ele me viu no corredor, eu usava um brinco com Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e aí, ele como sendo essa enciclopédia viva, ele disse o nome dela em em três idiomas. E aí eu me apaixonei por ele totalmente. Ali, a ideia de que, se eu tivesse um dia um teatro, teria o nome do Homero por tudo que ele representa desde aquele tempo. Ele sempre foi um entusiasta, um homem participativo que ajuda todo mundo, que colabora, que valoriza tudo que você faz, muito ético, muito honrado, um homem de teatro, que viveu a vida inteira para o teatro, formou-se em Direito, mas nunca exerceu. O Homero, olhando pra ele, eu digo sempre que vejo Amir Haddad, que tive a honra também de conhecer e trabalhar com Amir, olha para o Homero é olhar para o teatro, principalmente olhar para o teatro alagoano. Por isso, o nome dele. E a conduta interna, o formato, a proposta da casa, vem a partir de uma inquietação mesmo do que a gente tem visto na arte, tudo que a gente tem não consumido, todos os desafios, a precariedade dos lugares, a vontade de ter um lugar que pudesse minimamente atender o artista como ele merece. Não que os outros não façam isso, mas a gente está fazendo algo que provavelmente vai um pouquinho além, por conta de questões estruturais, equipamentos, mas jamais desvalorizando o que se mantém a ferro e fogo, tentando manter os espetáculos na suas casas, que realmente não é fácil.
Como foi todo o processo de luta pela idealização desse sonho, desde o primeiro passo até a realização?
A luta foi gigante. Eu não estou abrindo uma farmácia, uma locadora de carro, um posto de gasolina, eu estou abrindo um teatro e as pessoas dizem que a gente está na contramão, eu sou da crença de que estamos na mão correta, andando pra frente, valorizando o que há de mais profundo e importante numa sociedade civil, que é a arte, levar cultura para as pessoas. Então, o primeiro passo foi alugar o prédio, foi o dono acreditar no nosso processo, foi não desacreditar, continuar, mesmo enfrentando uma pandemia, muitas vezes a falta de apoio, muitas vezes até uma certa descrença de algumas pessoas do próprio meio, mas eu sempre me mantive muito firme, eu tive absoluta certeza que conseguiria, demoraria, mas demoraria no tempo que não pertence a mim, que é um tempo realmente do universo, tempo de Deus, que a gente não consegue domar, fui no fluxo, me mantendo firme nos propósitos e acreditando no poder que me rege que eu conseguiria sim, junto com várias mãos, com várias parcerias, abrir mais um teatro para a cidade de Maceió, mais um teatro para o Brasil.
O que podemos esperar da programação do Theatro Homerinho?
Nós vamos sentir mais quando abrirmos a nossa curadoria. A casa funciona recebendo projetos através do nosso site, que estará disponível a partir do dia 3 de fevereiro. Ele será lançado no dia 1º, mas só será ativado mesmo dia 3 de fevereiro, receberemos os projetos, as propostas, para que uma curadoria, que é composta por membros da coordenação do espaço e pela Associação Cultural Joana Gajuru, um dos grupos mais importantes de teatro do Brasil que, inclusive, esse faz 30 anos de carreira em 2025, como eu também. E nós iremos olhar os projetos e tentar organizar, da melhor maneira possível, uma programação que contemple o que nós pensamos de normas, de formação de plateia que queremos proporcionar e fomentar dentro da casa. Esse é o intuito de termos uma curadoria, que não é novidade no resto do país. Maceió que não tinha ainda esse tipo de pensamento, mas Recife, Aracaju, São Paulo, Rio já trabalham com essa forma de pensamento, de conduzir a casa, há muitos anos. Então, por isso, nós vamos trabalhar dessa maneira e pensando sempre em espetáculos de ótima qualidade, que se preocupam com a estética, com a qualidade de texto, com o trabalho do ator, sempre pensando no que for de melhor para atender à expectativa do público para que ele acredite que nós temos produtos culturais potentes, profissionais potentes e espetáculos muito, muito bem realizados. Eu acredito que é isso.
Como você se sente às vésperas da estreia?
Eu estou no momento agora muito das resoluções finais. Então, eu fico sempre no lugar muito pragmático. A emoção me atravessou mais antes. Agora, eu estou querendo tanto que as coisas aconteçam, que abra, que inaugure, que a gente festeje, que o público lote a casa, que os artistas apresentem seus espetáculos, seus shows, seus cursos, suas oficinas, para que a gente consiga voltar a ter uma cena frutífera, bela, brilhante, poderosa, viva, vibrante. Eu acho que a emoção vai vir no corte da fita do Homero, na subida da dona Selma Brito ao palco, inaugurando um palco que leva o nome dela, e quando eu puder entender o quanto foi importante esse processo, porque levamos nomes muito importantes, como do cenotécnico Ronaldo Vieira, que gentilmente cedeu seus conhecimentos para o artista plástico e artesão, o Baboo, que executou maravilhosamente bem tudo que vocês vão ver de palco, de urdimento, com os ensinamentos do mestre Ronaldo, com a parceria do seu fiel escudeiro Pantera, quer é seu assistente, olhar para o olho do Ricardo, que é irmão do Tainan – o pai da minha filha que foi o parceiro mais fiel nesse processo, olhar para o olho da minha arquiteta Taís Gabriele, olhar para o olho da Caya Engenharia, na pessoa da Clarinha e do Fred, que terminaram a obra, olhar para o olho do Elenilson que terminou toda nossa parte elétrica, olhar para o olho dos nossos patrocinadores que não soltaram a nossa mão em nenhum momento. E é muito bonito o que vem acontecendo porque estamos agregando outras marcas, isso só nos fortalece, com empresários atentos à importância da cultura e o quanto ela fomenta, porque nós somos 3% do PIB brasileiro, que fique bem claro isso, somos formadores de plateia, somos fomentadores de mão-de-obra, eles estão chegando e se aliando a gente nessa reta final de um começo feliz, que é a nossa inauguração e abrindo as portas pra todos os artistas, pessoas que queiram administrar de forma maravilhosa a nossa cadeia produtiva, criativa e bela, no nosso estado, no Brasil e, principalmente, em Maceió.
Como você vê o Homerinho em relação ao futuro e qual recado você deixa para os artistas e público alagoanos?
O futuro, eu acredito que seja muito bonito, muito especial, muito respeitoso com o processo. Eu tenho me sentido muito lisonjeada com brilho nos olhos das pessoas que tenho visto nesse seis anos e, agora, um tanto mais. O futuro… eu prefiro pensar no presente, no que estamos realizando agora. O futuro a Deus pertence, não há como a gente mensurar o futuro, eu mensuro o agora. O agora é muito, muito lindo, muito especial, muito convidativo, muito respeitoso, muito humano, muito amoroso porque, tudo que foi feito, foi respeitando e pensando sempre no artista, no público e em como eles iam se sentir ocupando o espaço. Por isso, a preocupação em cada detalhe que vocês verão quando forem visitar as nossas dependências. Então, eu espero que o público alagoano nos brinde com sua presença, nos valorize, pague um ingresso justo, que outros empresários nos procurem, sejam nossos apoiadores, nossos patrocinadores, porque não há como se arrepender apoiando cultura, não há mesmo. A mensagem que eu deixo é: venham para a nossa inauguração dia 1º de fevereiro, com uma festa gratuita, na rua, com grandes nomes da música alagoana, grandes artistas circenses, grandes artistas da cultura popular, grandes nomes das artes cênicas, das artes plásticas, da música, da dança, do artesanato. Enfim, todas as pessoas ali, juntas, dançando, cantando, na paz, rua fechada, com segurança, banheiro químico, felicidade, fé, confiança, poder, esperança… que tenhamos uma cena cultural linda, potente, poderosa, eu gosto repetir essa palavra porque me sinto assim, e que possamos ser muito felizes neste dia e no futuro que promete ser muito, muito, muito forte e repleto de irmandade, de parcerias muito potentes. Obrigada! Eu espero todos vocês.