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Diafragma para todo mundo ver e sentir

Sem tempo para ler? Clique para ouvir.

O blog Ping-pong inicia suas publicações entrevistando do Robson Cavalcante, responsável pela direção, roteiro e animação do curta-metragem Diafragma, indicado ao Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro 2024 e vencedor do Prêmio de Melhor Audiodescrição pelo Júri Popular e também na categoria Animação do 8º Festival VerOuvindo. 

A narrativa lúdica e sensível acompanha a vida de Carlos, um jovem criativo, apaixonado pela vida e pelas artes, que acaba ficando cego por consequência da diabetes e segue encontrando beleza e sentido pelo caminho, sempre com seu olhar de menino.  

O filme alagoano estreou em 16 de junho, no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, um dos principais eventos de cinema contemporâneo do Brasil. O curta-metragem, exibido na mostra Pequenos Olhares do festival, também faz parte de uma exibição itinerante em 20 cidades do interior do Paraná e esteve em cartaz na plataforma Itaú Cultural. Para assistir ao filme, basta acessar o SPCine Play e fazer um cadastro gratuito.

O curta-metragem, contemplado pelo edital da Lei Aldir Blanc Alagoas, lançado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), é o primeiro filme de animação produzido na região da zona da mata alagoana. 

Diafragma também se destaca pela sua abordagem inclusiva, com recursos de acessibilidade como audiodescrição, legenda e Libras. A produção pretende realizar uma série de exibições com foco na acessibilidade. As sessões vão acontecer no Cine Arte Pajuçara, em data a ser definida.

Conheça a história do Robson Cavalcante, natural da cidade de Teotônio Vilela, saiba quais suas inspirações e veja mais informações sobre o processo de criação de Diafragma. Boa leitura!

Como surgiu a ideia de Diafragma?

A ideia do curta-metragem “Diafragma” surgiu por volta de 2018, durante a minha pesquisa de TCC, quando fazia faculdade de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Nesse período, tive contato com várias pessoas que possuíam deficiência visual, especialmente pessoas que faziam parte do Instituto dos Cegos da Paraíba, em João Pessoa. Eu já estudava Cinema de forma autodidata, em paralelo com a Música, e tinha o hábito de anotar ideias que pudessem virar filmes. Então, além de servir de base para o TCC, o contato com essas histórias reais serviu como inspiração para um texto que depois se transformou no roteiro e na voz em off do curta.

O que te motivou a trazer essa temática?

Meu falecido pai era músico e tocava teclado em bares na cidade onde cresci, Teotônio Vilela, interior de Alagoas. O rapaz que cantava com ele era cego e morava ao lado da nossa casa. Foi através desse rapaz que eu soube que, no mundo, existem pessoas que não enxergam. Eu era criança quando tive essa “descoberta”, e essa informação me deixou bastante intrigado. Como seria viver no mundo sem nunca ter enxergado? E quão desafiador deve ser nascer enxergando e perder a visão abruptamente no auge da vida? Foi isso o que aconteceu com uma tia minha, tempos depois. Uma noite, ela foi dormir e acordou de madrugada com uma forte dor de cabeça. De manhã, ela já não enxergava. Essa curiosidade pelo assunto retornou na época da faculdade, quando fiz meu TCC sobre o tema “Ensino de Música para Pessoas com Deficiência Vsual”. Durante a pesquisa, fiquei impactado em perceber a importância de centros especializados de reabilitação e como as pessoas conseguem se reerguer diante dos obstáculos impostos por diferentes deficiências. O filme “Diafragma” foi uma maneira que encontrei de explorar o tema de uma forma leve e sem cair na discriminação típica do “capacitismo”, retratando a história de um personagem que, apesar das dificuldades trazidas pela deficiência visual, seguiu em frente dando o seu melhor.

Nos conta um pouco sobre a sua história na animação…

É dito que todo mundo desenha na infância, mas a maioria acaba parando de desenhar logo cedo por razões diversas. Eu fui uma dessas crianças que seguiu desenhando. Cresci assistindo Power Rangers, Bump, Dragonball, Digimon, essas coisas. Alguns amigos falavam que, quando crescessem, iriam ser médicos e teriam seu próprio carro. Eu não. Eu preferia ser o Goku do Dragonball e ter minha própria nuvem voadora. Minha mãe não me deixava sair muito para a rua por conta da criminalidade no bairro e porque eu era muito travesso. Foi nessa época que comecei a desenhar e esse era o meu brinquedo. Esse brinquedo passou a se tornar ferramenta de trabalho mais tarde, quando decidi trabalhar com cinema. Mesmo assim, a ideia de fazer animação sempre me pareceu algo muito distante. Eu realmente achava que era impossível sequer sonhar em fazer isso no Brasil, e menos ainda, em Alagoas. Mas, à medida que fui estudando o assunto e conhecendo animações brasileiras, fui entendendo melhor as possibilidades e encontrando maneiras de viabilizar projetos. Nessa caminhada, conheci profissionais do audiovisual que ajudaram a abrir portas. Dentre essas pessoas, estão a produtora executiva Renah Berindelli, o consultor de animação Mauricio Nunes e o consultor de roteiro Rafhael Barbosa, que contribuíram na realização do curta “Diafragma”. Em parceria com a Renah e com o Mauricio, trabalhei também no desenvolvimento da série de animação “Entre o Vale e a Floresta”, projeto inspirado na obra homônima da escritora alagoana Cristiane Lima. Em 2024, está saindo o “Alerta Verde”, curta de animação 2D dirigido pelo brasiliense João Paulo Procópio, outra produção da qual tive a oportunidade de participar, desta vez como codiretor e animador.

Como é fazer animação em Alagoas e qual o cenário atual?

Acredito que, com o crescente acesso ao conhecimento, com o advento dos meios de comunicação e a chegada de novas ferramentas, muitos realizadores audiovisuais em Alagoas estão passando a considerar a possibilidade de fazer animações, além de obras live-action (filmes com atores reais). A existência de editais de fomento ao setor também tende a colaborar bastante no desenvolvimento desse cenário, seja no apoio a curtas e longas-metragens, seja na produção de festivais ou capacitações para formação de mão-de-obra. De forma geral, acho que estamos em um momento de transformação onde muita coisa pode acontecer. Mas não adianta ficar só observando. Para que algo realmente aconteça, precisamos colocar a mão na massa. Isso, para mim, significa ter mente aberta, imaginar que é possível, planejar, executar, analisar resultados e melhorar continuamente, junto com pessoas interessadas em fazer acontecer.

Como se sente com a indicação de Diafragma ao Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro 2024?

Estou muito feliz com a seleção. Vejo a indicação de “Diafragma” ao Prêmio Grande Otelo como uma oportunidade de levar a mensagem do filme para um público ainda maior, especialmente à comunidade cega, já que, além de abordar o tema “cegueira”, o filme conta com recursos de acessibilidade. Acho que esta indicação é uma conquista importante para o cenário audiovisual local, porque a seleção pode estimular a produção e distribuição de novas obras realizadas por pessoas alagoanas.

Imagens: ¹ Reprodução, ² Divulgação.

Sobre o autor
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Hannah Copertino

Jornalista, pós-graduada em assessoria de comunicação e marketing, possui experiências em telejornalismo e assessoria de comunicação. Eterna apaixonada pela natureza, arte e cultura, é alagoana de Maceió e uma das fundadoras do Desembarque Alagoas.
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