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Início Especial As preciosidades do Museu Palácio Floriano Peixoto
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Na Praça dos Martírios, Centro de Maceió, um prédio se destaca por sua imponência e bela arquitetura eclética. É o Museu Palácio Floriano Peixoto (Mupa), a antiga sede do Governo de Alagoas, que abriga preciosidades em seu acervo, além de exposições permanentes em homenagem a Aurélio Buarque de Holanda e Lêdo Ivo.

O prédio, construído para abrigar a sede do governo estadual, foi projetado pelo arquiteto italiano Luigi Lucarini e inaugurado em 16 de setembro de 1902, marcando as comemorações da Emancipação Política de Alagoas. A fachada possui em suas alas esculturas em louça portuguesa. representando a justiça, a lavoura, o comércio e a história.

Mais conhecido como Palácio dos Martírios, o museu integra o Conjunto Arquitetônico dos Martírios e é tombado pelo Patrimônio Estadual. O Mupa faz parte dos cadastros do Sistema Alagoano de Museus/SAM, do Sistema Brasileiro de Museus e do Cadastro Nacional de Museus – CNM.

Majestoso, o prédio guarda mais belezas e riquezas histórico-culturais no térreo e no primeiro andar. No Salão Nobre, tem móveis clássicos, estilo Luis XV, também conhecido como Rococó, que são feitos de madeira maciça, têm um acabamento bem refinado e são repletos de detalhes, tornando a produção da época diferenciada e especial.

Além do mobiliário antigo, o primeiro andar do prédio também tem prataria, cristais, objetos decorativos e quadros de artistas alagoanos, como José Zumba, Luis Silva, Miguel Torres, Lourenço Peixoto e várias obras de Rosalvo Ribeiro, premiado em diversas exposições no Brasil e na França.

Exposições permanentes

Observar os detalhes do Museu Palácio Floriano Peixoto é como fazer uma viagem no tempo e também é possível mergulhar no universo de dois alagoanos ilustres. Em 2010, o Mupa incluiu em seu acervo o Espaço Aurélio Buarque de Holanda e o Memorial Lêdo Ivo, reverenciando esses grandes nomes da língua e literatura brasileiras.

Espaço Aurélio Buarque de Holanda

A trajetória do alagoano e dicionarista mais famoso do Brasil, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, é contada no Museu Palácio Floriano Peixoto. No espaço, uma linha do tempo revela a história do escritor, desde seu nascimento até a morte, além de reunir objetos pessoais, manuscritos, textos datilografados, fotografias, comendas, medalhas e anotações do dicionarista. O espaço também guarda um exemplar do dicionário Aurélio de 1975, ano que foi lançado, ou seja, sua primeira versão.

Natural do município de Passo de Camaragibe, em 3 de maio de 1910, Aurélio foi lexicógrafo, professor, tradutor, ensaísta, tradutor e crítico literário brasileiro. A sua paixão pela língua e literatura portuguesas começou tão cedo que, aos 14 anos, Aurélio já dava aulas particulares de português e, aos 15 anos, ensinava oficialmente no magistério.

Um dos maiores pesquisadores sobre a língua portuguesa do Brasil, em 1930, Aurélio frequentou rodas literárias com grandes nomes, como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e Jorge de Lima, e estudou minunciosamente escritores como Machado de Assis e Eça de Queiroz.

Dez anos depois, em 1940, Aurélio recebeu um telefonema de Manuel Bandeira o convidando a participar da criação do Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa ou Dicionário Aurélio, como é mais conhecido, no qual ele ficou responsável pela parte de brasileirismo e redação da obra, que teve mais de um milhão de exemplares vendidos e se tornou a segunda publicação mais lida no país, ficando atrás somente da bíblia. Bandeira trabalhava junto à outro alagoano ilustre: Jorge de Lima.

Vale destacar que, antes do trabalho do Aurélio, os dicionários se limitavam a registrar palavras da língua culta e eram itens de consumo exclusivos da elite brasileira. Com o brasileirismo introduzido pelo alagoano, houve a democratização da língua no dicionário ao assimilar gírias e palavras de todas as regiões do país. Surgia também um movimento de afirmação da pluralidade da identidade brasileira. O dicionário, que inicialmente tinha 80 mil verbetes, conta com 435 mil hoje em dia.

“Desde muito cedo, me preocupei com o dicionário. Quando tinha nove ou dez anos, eu me interessava por eles. Eu poderia dizer, se fosse remontar ao meu início, que a minha paixão lexicográfica é quase tão antiga na face do planeta quanto eu mesmo”, revelou Aurélio, certa vez, em uma entrevista

Além de registros de momentos marcantes da vida do Aurélio e de relatos dele, como o que você leu acima, a exposição também traz falas de intelectuais sobre o alagoano.

“Conhecedor apaixonado da língua, lusitanizante emérito, brasileirizante sem rival, colecionou dicionários, vocabulários, glossários, terminologias e quanta matéria lexicográfica se publicou nesta língua e congêneres”, afirmou Antônio Houaiss sobre o mestre dicionarista.

“Aurélio Buarque de Holanda não nasceu para fazer um dicionário, e sim para ser um dicionário. Para ser o Aurélio, uma galáxia de palavras”, assim definiu o escritor Lêdo Ivo. 

Com tamanha contribuição, em 1961, Aurélio foi eleito como quarto ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras, se tornando o primeiro alagoano a entrar na casa, seguido por Pontes de Miranda e Lêdo Ivo. Marina Baird, esposa de Aurélio, contava que ele dizia: “Sou escritor da província e minha maior glória é entrar para a Academia”. O mestre das palavras faleceu em 1989, no Rio de Janeiro, deixando uma inestimável contribuição com a língua brasileira.

Memorial Lêdo Ivo

O Memorial Lêdo Ivo apresenta um pouco do vasto universo do premiado escritor, que passeava pela poesia, romance, conto, crônica, ensaio, além do jornalismo.  Com fotografias, imagens, objetos pessoais, uma coleção de livros, textos e raro acervo audiovisual, o espaço conta a trajetória do alagoano.

Com uma linha do tempo que marca o início da vida de Lêdo Ivo até o ano de 2010, quando o espaço foi inaugurado, o memorial possui poemas, prosas e rascunhos pelas paredes do museu. Lá, os visitantes também podem ouvir textos escritos por Lêdo Ivo, lidos por ele mesmo, eternizando ainda mais o poeta. Caminhar por este espaço é como mergulhar no infinito particular do escritor, apaixonado e inspirado pelo mar.

“Todo acervo, doado ao Estado de Alagoas, está contido num cenário que busca traduzir o universo do poeta, o universo de águas azuis e de lama turva da noite, de mangues e de currais de peixes de um farol a lhe apontar navios que o incitaram a expatriar-se e, paradoxalmente, a sempre ficar com o coração juncado à sua terra natal como lugar inarredável em sua obra, em sua memória e imaginação”, destacou a curadora da exposição, Leda Almeida 

Natural da cidade de Maceió, Lêdo Ivo nasceu em 18 de fevereiro de 1924. Aos 14 anos, ele começou a colaborar com a imprensa alagoana e, aos 15, já havia escrito dois romances: Madrugada e O Sol Nasce para Todos. Aos 20 anos, publicou seu primeiro livro de poemas, intitulado As Imaginações, que recebeu o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.

Daí por diante, foram muitas publicações, prêmios, homenagens e palestras Brasil afora. Entre seus momentos marcantes internacionalmente, estão palestras nos Estados Unidos, a convite do governo norte americano. Além de diversas homenagens no Brasil, Lêdo Ivo foi reverenciado por suas obras em países como México e em Portugal.

“Minha exatidão não é daquelas que cabem numa caixa de fósforo. Minha exatidão é do tamanho do oceano”, disse o poeta, eterno apaixonado pelo mar. 

O alagoano, que conquistou o mundo com seus escritos, teve vários trabalhos traduzidos para outros idiomas. Entre suas dezenas de obras, estão Ninho de Cobras, A Noite Misteriosa, As Alianças, Ode ao Crepúsculo, A Ética da Aventura, Calabar e Confissões de um Poeta.

“Quando escrevi Ninho de Cobras, não ousei chamá-lo de romance. Preferi apontá-lo como uma história mal contada – e, na verdade, o é, já que escolhi um caminho inverso à clareza narracional dos grandes mestres do romance do século XIX, como se a minha ficção, fragmentária e esquiva, estivesse fluindo da boca de um cigano ou de um ladrão de cavalos”, disse Lêdo Ivo em Confissões de um Poeta.

A exposição também reúne diversos livros de Lêdo Ivo, alguns deles contidos numa espécie de rede de pesca instalada na parede, e depoimentos de personalidades ilustres a respeito do escritor. 

“Da minha geração, destaco Lêdo Ivo, que considero o maior de todos”, afirmou o escritor João Cabral de Melo Neto. 

Em toda sua carreira, Lêdo Ivo se manteve muito atuante, sempre produzindo. Membro da Academia Alagoana de Letras, eleito em 13 de novembro 1986, como o quinto ocupante da Cadeira nº 10, Ledo Ivo faleceu em dezembro de 2012, aos 88 anos de idade. 

“Toda vida é incompleta, por mais que ela seja habitada por muitos acontecimentos”, refletiu Lêdo Ivo.

Visitas

O Museu Palácio Floriano Peixoto está aberto à visitação de terça a quinta-feira, das 9h às 17h, e às sextas-feiras das 9h às 14h, com entrada gratuita. A visita é guiada por estudantes do curso de história, da Universidade Federal de Alagoas, que não só apresentam os espaços e as obras, como também os contextualizam.

As visitas só precisam ser agendadas para grupos acima de 30 pessoas. O agendamento pode ser feito pelo e-mail moc.liamgobfsctd@saogala.apum. As instalações do museu também são abertas para ensaios fotográficos, que devem ser agendados por meio de ofício.

Praça dos Martírios

Do lado de fora do museu, na Praça dos Martírios, tem o Monumento ao Marechal Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil, que dá nome ao espaço. Modelada em bronze pelo italiano Angelo Angioli, a escultura foi instalada em junho de 1908, meses antes da inauguração da praça, que ocorreria em 24 de dezembro, véspera de Natal.

Inicialmente, a escultura foi posta voltada para o Palácio do Governo. Em 1936, durante reforma da praça, a escultura do Marechal Floriano Peixoto teve sua base elevada para ter maior visibilidade e foi afixada de frente para a Rua do Comércio, posição em que se encontra até hoje.

Na praça, também é possível ver a Fonte Luminosa Cuscuzeira do Major, que é cercada por um espelho d’água e um canteiro. Projetada pelo pernambucano Abelardo da Hora, a fonte foi inaugurada em 16 de setembro de 1963, durante o governo do Major Luiz Cavalcante. Foi apelidada de Cuscuzeira do Major devido ao seu formato.


Imagens: ¹ Hannah Copertino.

Sobre o autor
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Hannah Copertino

Jornalista, pós-graduada em assessoria de comunicação e marketing, possui experiências em telejornalismo e assessoria de comunicação. Eterna apaixonada pela natureza, arte e cultura, é alagoana de Maceió e uma das fundadoras do Desembarque Alagoas.
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