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Início Especial Do canto dos pássaros ao pífano: um patrimônio chamado Chau
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A música dele é daquelas que dá vontade de levantar e dançar, que nos contagia com tanta alegria, nos lembra o quanto de riquezas e belezas há em nossa cultura popular e nos enche de orgulho por termos um dos maiores mestres de pífano do Brasil. Estou falando do trabalho de José Prudêncio de Almeida, cujo nome artístico é Chau do Pife. Natural da cidade de Boca da Mata, zona da mata alagoana, o músico tem muita história pra contar e um grande legado, ao longo de seus 45 anos dedicados à arte. 

Toda essa história tem início nas origens do músico, ainda na infância, aos oito anos. Seu pai era agricultor e músico nas festas da cidade à época. A arte já pulsava na família e o pífano foi ao encontro do Chau. Para proteger as plantações de milho, o pequeno Chau recebeu de seu pai um pífano feito de taboca para que ele tocasse toda vez que os passarinhos se aproximassem.

A missão dada a Chau era preservar a produção, ao assustar os pássaros com o som. Só que as melodias do instrumento despertaram uma paixão eterna no Chau. Um menino, que ficou encantado pelo canto dos pássaros, e, com o pife na mão teve uma grande descoberta: percebeu que poderia fazer seus próprios cantos.

“O meu pai teve 37 filhos e, todos os que eu conheci, botava pra trabalhar na roça. Ele me deu um pife com quatro furos e o meu emprego era para estar dentro da roça, às quatro horas da manhã, pra tanger os passarinhos. Quando o meu pai ia tocar, eu ficava do lado olhando. Com um tempo, eu pedi um pife igual ao dele. Um ano e pouco depois, eu já tocava umas besteiras. Eu comecei com oito e, com nove anos, eu já tocava na banda de pífano”, lembra Chau.

E foi assim, na roça, que o artista desabrochou, conhecendo o instrumento que seria seu grande amigo, companheiro, amor, inspiração e que traçaria seus caminhos na vida. Logo, a vontade de tocar mundo afora fez Chau trocar a plantação por ruas, feiras e palcos. A cada dia, aperfeiçoando a tocada e ampliando seu repertório.

Aos 12 anos, ele saiu de casa com seu amigo pífano e muitos sonhos. A caminhada teve seus altos e baixos, mas Chau sabia que era aquilo que queria para a vida inteira. O músico seguiu sua trajetória, passando por várias cidades alagoanas. Na bagagem, ele passou a colecionar, além de histórias e aprendizado, composições.

“Para todo canto que eu for, tem que ter o pífano comigo, estou sempre com o pife do meu lado. Eu fui pra feira de Atalaia, coloquei o chapéu no chão e comecei a tocar. Algumas pessoas paravam, olhavam, colocavam dinheiro. Dali, toquei mais na feira de Atalaia, fui pra Anadia, Maribondo, Arapiraca, Campo Alegre… andei por muito canto e, para a minha felicidade, parei na Praça do Centenário, em Maceió, cidade onde conheci muita gente que me ajudou, como Tororó do Rojão e Ranilson França”, conta.

Atualmente, Chau é autor de quatro álbuns. Ele gravou seu primeiro CD Memória dos Pássaros, em 2001. O segundo veio em 2006, Ninguém Anda Sozinho, que serviu de trilha sonora para um documentário sobre o poeta alagoano Ledo Ivo. O terceiro, Chau no Capricho, que integra a coleção Música Popular Alagoana – vol. 3, foi gravado ao vivo no Teatro de Arena Sérgio Cardoso, em 2010. Em 2017, lançou seu 4º CD Meu Pife, Meu Amigo!, com 12 composições autorais, dentro das comemorações dos 107 anos de fundação do Teatro Deodoro. Chau também gravou o primeiro DVD Cheiro de Mato, em 2011, no Teatro Deodoro. E, em 2018, o artista foi o tema de um documentário nas celebrações dos 108 anos do Teatro Deodoro. Além de tocar e compor, Chau também fabricava seu próprio pife, mas parou e conta com o apoio de outro mestre para a confecção de seus pífanos, o Gama, que também toca o instrumento. Chau tem uma coleção com mais de 50 “pifes” em casa.

“O pife é o melhor amigo que eu tenho. Primeiramente, Jesus, e, depois ele. Se eu tiver passando dificuldade, eu toco e ele me consola, naquele momento o problema vai embora. Eu toco buscando aprender mais e vou continuar tentando aprender os caminhos da vida”, afirma.

Patrimônio Vivo de Alagoas

Por sua arte genuína e contribuição com a cultura do estado, Chau do Pife recebeu o título de Patrimônio Vivo de Alagoas. E esse reconhecimento não é para menos. Com seu velho amigo pífano, Chau cria melodias alegres e vibrantes para expressar sua identidade, talento, vivacidade, conhecimento e musicalidade – típicos de um mestre alagoano.

“A gente precisa do dinheiro, mas o que brilha mais nisso é saber que eu sou um patrimônio do meu lugar. Não estudei, mas construí uma história na música com a minha trajetória. E eu sou fã do meu estado, gosto muito de Alagoas”, revela.

Lançamento recente

Hoje, aos 67 anos, o artista da nossa cultura popular segue como um eterno amante da música e se mantém na ativa ao lado de seu instrumento. No último dia 05 de abril, o Chau do Pife lançou a música Não Sei Onde Vou Parar em suas plataformas digitais. A composição do Chau tem arranjos do Willbert Fialho e produção do Gama Junior, pela Namastê Produções. Com uma harmonia perfeita, a música une o erudito ao popular. Esse lançamento eterniza um momento histórico da arte alagoana, que foi a apresentação do Chau do Pife junto à Orquestra Filarmônica de Alagoas, no palco centenário do Teatro Deodoro. Confira abaixo os links do artista para conhecer, curtir e compartilhar esse lançamento, além de outras composições.

Quando perguntado sobre o que pretende fazer para continuar sua jornada, o mestre Chau rapidamente e sabiamente responde: 

“Fazer mais pife, mais amigos. Agradecer a Deus por tudo e dizer que eu sou o tocador de pife mais feliz. O mundo é muito lindo”, conclui.

Siga o Chau

Acompanhe o trabalho do Chau do Pife nas plataformas digitais:


Imagens: ¹ Adalberto Farias / Jangada Filmes.

Sobre o autor
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Hannah Copertino

Jornalista, pós-graduada em assessoria de comunicação e marketing, possui experiências em telejornalismo e assessoria de comunicação. Eterna apaixonada pela natureza, arte e cultura, é alagoana de Maceió e uma das fundadoras do Desembarque Alagoas.
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