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Estudante cego de 54 anos se forma em Serviço Social

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As vestes talares e o clima de emoção, na manhã desta segunda-feira (16), na Sala dos Conselhos, na Reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), indicavam um momento de grande importância. A solenidade de colação de grau, presidida pela vice-reitora Eliane Cavalcanti, foi solicitada para conferir a diplomação de Rinaldo José dos Santos, de forma antecipada em vista das complicações de saúde.

A mesa de honra foi composta pelo pró-reitor Estudantil, Alexandre Lima; o pró-reitor de Extensão, César Nonato; o pró-reitor de Graduação em exercício, Vinicius Manzoni; a vice-diretora da Faculdade de Serviço Social, Adriana Torres; e o coordenador do Curso de Serviço Social, Japson Gonçalves. Também estavam presentes os familiares e representantes do corpo docente e técnico-administrativo da Faculdade de Serviço Social, entre estes, o professor Aruã Lima, que acompanhou mais de perto a trajetória acadêmica de Rinaldo.

Todas as falas da mesa foram iniciadas com autodescrição, para que Rinaldo pudesse formar uma imagem da solenidade, que cumpriu todos os ritos acadêmicos e honrarias, apesar de ter apenas um formando.

“Estamos aqui para conferir grau ao estudante e encerrar um importante ciclo. Sabemos que, principalmente os estudantes de origem humilde, tem os estudos como uma meta e realização de um sonho. Esperamos ter você conosco para novos desafios, como a pós-graduação”, destacou a vice-reitora.

Uma história de superação

A vida toda de Rinaldo José dos Santos foi marcada por muitas limitações, em função do diabetes, diagnosticado quando ele tinha apenas sete anos de idade. A doença causada pela insuficiência ou má absorção de insulina, trouxe como comorbidade problemas renais que o obrigam a realizar diálise com frequência, e, o que mais impactou a vida de Rinaldo, uma retinopatia que o deixou praticamente cego aos 40 anos.

Apesar destes obstáculos, Rinaldo procurou se desenvolver e aprender a conviver da melhor forma possível com as deficiências que a doença lhe impôs. No Centro Cyro Accioly, que é referência no atendimento a deficientes visuais em Alagoas, Rinaldo foi estimulado a fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para cursar o ensino superior. “Fiz minha inscrição para Serviço Social na Ufal e fiquei muito feliz quando fui aprovado”, conta ele.

Mas os desafios estavam só começando.

“A Ufal ainda precisa avançar muito em acessibilidade. Não tinha material acadêmico adaptado para minha condição. Também era preciso fazer a oferta acadêmica de forma que minhas aulas fossem no térreo. Eu contei com muita ajuda dos técnicos, docentes e colegas estudantes para chegar até aqui”, destacou o recém-formado.

Ao longo do curso, Rinaldo buscou indicar quais eram as adaptações necessárias para que os estudantes com deficiência possam ter mais condições de circular pelo campus e se sintam mais incluídos no ambiente universitário.

“Rinaldo se forma hoje, mas deixa sua contribuição para a instituição. Ele integrou o Fórum Permanente de Acompanhamento das demandas de Acessibilidade. No dia 11 de março do próximo ano, teremos uma audiência pública na Ufal, fruto deste trabalho”, informou Alexandre Lima, pró-reitor Estudantil.

O professor Aruã também ressaltou a força de vontade com que Rinaldo superou tantas dificuldades.

“Para mim foi um aprendizado. Decidi acompanhar Rinaldo seguindo o exemplo da minha mãe, que é pedagoga e especialista no acompanhamento de estudantes com deficiência. É emocionante vê-lo concluir a graduação. Nem todos conseguem. Tivemos a evasão de um estudante cego e sabemos que é preciso melhorar nosso acompanhamento para que ninguém desista”, ressaltou Aruã.

A mãe de Rinaldo, Giselda Maria dos Santos, ficou o tempo todo ao lado do filho, visivelmente emocionada e também muito orgulhosa.

“Tenho três filhos e foi justamente o que tem a saúde mais debilitada o único que conseguiu cursar e concluir o ensino superior”, disse ela. Rinaldo agradeceu à mãe, aos demais familiares e a todos os docentes e técnicos da Universidade que contribuíram com os seus estudos. “Eu não chegaria até aqui se não fossem essas pessoas”, concluiu.

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